sábado, 16 de abril de 2011

Menina-flor.

A carta não havia sido entregue
E a menina engolia agora torto
Todos os desabafos ditos somente debaixo de seu cobertor.
Nesses desabafos ela gritou, esperneou, chorou
Mas tudo permaneceu mudo, calmo, intacto.

A menina era de terremotos discretos
Ela era isso (sem melhor definição):
Um terremoto discreto.
Nascera assim, que culpa tinha a pobre atrapalhada?
Não chorara muito alto
Quando viu a luz na primeira vez.
Ela era assim
Gritava por dentro
E tinha medo por fora.
Como uma cápsula mal resolvida, atormentada
Nascera assim, que culpa tinha a pobre maluca?

É evidente que o descompasso terreno
Não era de grande ajuda
Para a formação de seu jeito de ser
E nem para as crenças que tal criatura possuía
Mas percebo que essa é uma forma de salvar-se
De fugir, de respirar fundo
E acreditar na própria energia da convicção de ser.

A menina gostava sobretudo
Das coisas que conversava consigo mesma
Como se fosse essa sua melhor parte
E talvez fosse.
Quem passa uma tarde
E depois um pôr-do-sol
Em qualquer que fosse o lugar
Com qualquer que fosse o humor dela
Saberia claramente disso.

A menina encanta, desencanta
Deixa partes suas nas pessoas
E depois parte.
Sofre e faz sofrer.
Pobre atormentada, é uma flor.
Alegre, amarga, doce, triste, bonita...
É uma flor.

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